domingo, 28 de janeiro de 2018

"...Como uma criatura humana, estou cansado, muito cansado..."

Twirling Wires, Roger Ballen, 2001
.
.
.
Nasci em 1924. Se eu fosse um violino da minha idade
não seria dos melhores. Como vinho seria um cinco estrelas
ou vinagre. Como cachorro estaria morto. Como um livro
estaria me tornando caro, ou estaria abandonado num sebo qualquer.
Como uma floresta eu seria jovem; como uma máquina, ridículo.
Como uma criatura humana, estou cansado, muito cansado.

Nasci em 1924. Quando penso em criaturas humanas,
vejo apenas as que nasceram no ano em que nasci,
cujas mães trabalharam lado a lado com a minha
onde quer que estivessem, em hospitais ou casas escuras.

Hoje, no meu aniversário, gostaria de recitar
uma prece solene para vocês
cujas vidas já se curvaram sob o peso
das esperanças e das frustrações,
cujos feitos se apequenam, e cujos deuses se multiplicam –
vocês são todos irmãos da minha fé, companheiros
de meu desespero.

talvez vocês encontrem a paz duradoura,
os vivos em suas vidas, os mortos
em estarem mortos.

E quem quer que lembre melhor de sua infância
é o vencedor,
se é que há vencedores.

.
Yehuda Amichai.
Trad. Pedro Gonzaga.
.


quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

"La poesía terminó conmigo."

Nicanor Parra (05/09/1914 - 23/01/2018)
© foto de Hans Ehrmann, d.i
.
.
.
Ha llegado la hora de retirarse
Estoy agradecido de todos
Tanto de los amigos complacientes
Como de los enemigos frenéticos
¡Inolvidables personajes sagrados!

Miserable de mí
Si no hubiera logrado granjearme
La antipatía casi general:
¡Salve perros felices
Que salieron a ladrarme al camino!
Me despido de ustedes
Con la mayor alegría del mundo.

Gracias, de nuevo, gracias
Reconozco que se me caen las lágrimas
Volveremos a vernos
En el mar, en la tierra donde sea.
Pórtense bien, escriban
Sigan haciendo pan
Continúen tejiendo telarañas
Les deseo toda clase de parabienes:
Entre los cucuruchos
De esos árboles que llamamos cipreses
Los espero con dientes y muelas.
.
Nicanor Parra.
.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Retrato do artista enquanto sujeito: Antonin Artaud

Antonin Artaud, poeta, ator, roteirista e diretor de teatro francês (1896-1948)
foto de © Man Ray, 1926
.
.
.
"Eu falo da ausência de buraco, de uma espécie de sofrimento frio e sem imagens, sem sentimento, e que é como um choque indescritível de abortos."
.
Antonin Artaud.
.
.

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails